A estilista italiana Elsa Schiaparelli (1890-1973) sempre foi ousada. Engajada e feminista, inventou a cor shocking pink e criou peças icônicas em parceria com artistas surrealistas como o pintor catalão Salvador Dalí (1904-1989). Esse universo poético continua sendo levado às passarelas pelo atual diretor de Criação da maison, o francês Bertrand Guyon, que assumiu o cargo em 2015, após passagens por grifes como Valentino, Givenchy e Christian Lacroix.
Para sua segunda coleção de alta-costura à frente da marca, a inspiração — prosaica à primeira vista — foram os alimentos. “É um retorno ao que é essencial, ao prazer de ter os amigos em casa”, diz Guyon. Na passarela, cebolas, vagens, abóboras e outros legumes estamparam vestidos, tops, saias e boleros. Pastas, como o fusilli, e a famosa lagosta, que remete à parceria de Elsa e Dalí, também foram “servidos” no banquete fashion.
Ricos bordados de cerejas e flores encantaram os olhos, assim como babados e transparências de sedas e musselines. E não faltaram borboletas, muito presentes nas criações da fundadora — no surrealismo, o inseto simboliza a mudança, a metamorfose do feio para o bonito. Estampas gráficas que lembravam teias de aranha garantiram a vibe contemporânea, enquanto crochê, ráfia e trigo renovaram os vestidos de noite.
A estética artesanal do eveningwear conquistou a atriz chinesa Michelle Yeoh, que foi ao baile da amFAR, em Hong Kong, usando um vestido couture da Schiaparelli. Luxuosos, os broches cravejados de pedras preciosas foram arrematados com elementos inusitados, como camarões. A alimentação era uma preocupação de Elsa, que mandou construir uma trattoria no subsolo de seu ateliê em Paris. “Comer bem dá alegria de viver e contribui para a boa vontade e para relacionamentos felizes”, escreveu em sua autobiografia, Shocking Life.