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Flavia Aranha abre seu ateliê e mostra sua técnica de tingimento sustentável

Published 21/06/2016
Em uma casinha charmosa localizada na Vila Madalena, em São Paulo, a estilista Flavia Aranha coordena a produção quase 100% manual de sua marca homônima, cujo DNA é composto de formas minimalistas e descomplicadas, feitio manual e cores suaves, provenientes de um interessante processo de tingimento sustentável. Flavia, de 32 anos, é uma entusiasta das técnicas artesanais e do movimento slow fashion, que prega uma forma de consumo mais consciente e menos acelerada. “Nunca fui consumista, ao contrário. Eu me satisfaço em fazer uma roupa que representa quem tem esse estilo de vida”, afirma. Apesar de ter estudado moda em Paris e se formado estilista por uma universidade da capital paulista, suas inspirações vêm das raízes interioranas. “Quando eu era criança, passava férias no Nordeste e ficava encantada com as rendas. Na casa dos parentes do interior paulista, me apaixonei pelas toalhas bordadas. E aprendi a costurar aos 13 anos”, lembra ela, nascida e criada em Campinas. Apesar de importar alguns elementos, as matérias-primas brasileiras são prioridade. O algodão orgânico, por exemplo, é cultivado, tecido e fiado à mão por comunidades de Minas Gerais, do Nordeste e de Goiás. “Gosto de saber a história por trás de cada item”, orgulha-se. Na arara do ateliê, há seis anos no mercado, nada fica velho. “Modelagens atemporais e confortáveis e materiais de qualidade não dependem da estação. Elas tornam-se essenciais e bonitas em qualquer tempo”, diz.

Cores da natureza
Depois de cinco anos atuando em uma bem-sucedida marca de roupas da indústria convencional, Flavia percebeu que estava colaborando para um processo de trabalho distante de seus valores. Pediu demissão. “Passei pela Índia, Canadá e Uruguai estudando com os maiores especialistas em adaptar técnicas ancestrais de tingimento natural a formas modernas e sustentáveis”, conta ela, referindo-se a um dos destaques de seu trabalho. “Gosto de usar ingredientes simples, como chás, cascas de árvores e flores”, diz. Nas mais recentes coleções, a acácia negra deu vida a um rosê chique. Já o azul vem do índigo, um pigmento extraído da aneleira. Flavia nos recebeu em seu ateliê e mostrou, passo a passo, a encantadora alquimia que faz com que cascas de cebola e repolho – ambos na versão roxa – se transformem em um verde elegante. E contou uma novidade: a partir deste mês, abre as portas da casa para compartilhar seu conhecimento em oficinas e workshops.
Sopa de cores
Flavia ensina a tingir uma camisa de algodão de 100 gramas. “A quantidade dos ingredientes varia de acordo com o peso da peça. Por isso é importante pesá-la”, explica. Os protagonistas, a cebola e o repolho, ambos na versão roxa, rendem um verde dos mais interessantes. Os outros ingredientes são encontrados facilmente em farmácias. 

Ingredientes
• 100% do peso da camisa de casca de cebola roxa 
• 50% de repolho roxo 
• 8% de tanino (extrato de acácia negra ou chá-preto em pó) 
• 8% de alúmen (pedra hume em pó) 
• Detergente neutro 
• Água
Preparação
1. Ferva a peça com 5 ml de detergente neutro por 40 minutos e depois enxágue. 
2. Ferva mais uma panela com água, adicionando o tanino. Mexa e coloque a camisa para ferver por mais 40 minutos. 3. Retire a peça e reserve. Adicione o alúmen e mexa bem. Só depois coloque novamente a peça e deixe ferver por 40 minutos. “O alúmen e o tanino atuam como fixadores e são facilmente encontrados em casas de produtos naturais e farmácias”, explica Flavia.
Extrato
1. Ferva a casca de cebola e o repolho por uma hora em uma panela grande com cerca de 5 litros de água. Coe as folhas e descarte. Ferva a camiseta por mais 40 minutos no líquido. Durante esse tempo, a peça vai ganhando o tom verde que a mistura proporciona. 
2. No dia a dia, lave a peça à mão com água e deixe secar sempre à sombra. “Nunca use produtos químicos”, alerta a estilista.
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