Mestre em surpreender usando poucos elementos, Giorgio
Armani elegeu apenas um trio de cores para criar sua mais recente coleção de
alta-costura, batizada de Shocking. Rosa, azul e preto – com pinceladas de
verde e violeta – se alternaram e se misturaram em roupas que uniram brilhos e
texturas encantadoras. Ainda que elegantemente precisas, as peças tinham uma
certa rusticidade, sugerida pelas tramas desfiadas, franjas, transparências e
aplicações. Uma atmosfera rock’n’roll se insinuou em decotes profundos,
amarrações, recortes e até nos cabelos curtos das modelos – não faltou atitude
aos looks idealizados pelo estilista italiano.
Para renovar sua alta-costura, Armani usou chiffon desgastado,
lurex, chenille, seda, veludo, nylon, cristais coloridos e canutilhos. Nada de
tule ou organza. “Imaginei uma mulher jovem que adora se vestir sem seguir
regras de moda, que cria seu próprio estilo – elegante, livre e extremamente
individual”, diz. E se existe uma palavra que pode definir a coleção, essa
palavra é jovial. Seguindo a premissa, sua consagrada alfaiataria também marcou
presença, com blazers de ombros estruturados e calças amplas. Clássicos, mas
com frescor contemporâneo. Longos tomara que caia e vestidos com mangas
dominaram a passarela parisiense. E as plumas se encarregaram de trazer uma
dose extra de glamour aos looks com calça. Nos pés, slippers e sapatilhas
lembravam que, hoje, não há nada mais chique do que o conforto.
A escolha da paleta de cores intensas contrasta com a da
última coleção da Armani Privé, inspirada no Japão, que se baseou unicamente em
tons neutros. Ao optar pelo pink, o estilista mostra que pode ser muito mais do
que il Signor Beige, como foi apelidado pelos críticos. Aos 81 anos e à frente
de um império fashion invejável, ele sabe que não precisa provar mais nada a
ninguém.
Publicado na revista CARAS edição 1140