Estética africana é inspiração da grife Valentino na Semana de Moda de Paris

Para criar sua nova coleção de Primavera-Verão, a dupla Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli deixou Roma, sua recorrente fonte de inspiração, e voltou seu olhar para a África. Estampas tribais, franjas, acabamentos de ráfia, penas, tricôs, cabelos trançados e joias com vibe étnica tomaram conta da passarela parisiense. Os elementos romanos estiveram presentes nas túnicas longas, nas sandálias de tiras e na fluidez dos tecidos, mas a influência multicultural predominou, a começar pela paleta de cores, com tons terrosos e pinceladas de amarelo, vermelho, azul e verde. “É hora de ver a integração de diversas culturas, criar novos equilíbrios entre nossa estética tradicional e o surgimento de uma nova cultura”, diz Piccioli, referindo-se à problemática dos imigrantes que ganha os noticiários diariamente. 

A coleção não se baseou somente em elementos africanos, mas em como essa cultura influenciou a arte de Pablo Picasso (1881-1963) e Georges Braque (1882-1963). A riqueza dos trabalhos manuais e a beleza das texturas encheram os olhos da plateia, como no caso dos vestidos de couro, dos casacos e vestidos com franjas e nos tops bordados. Renda, tule, seda, camurça e tricô protagonizaram looks encantadores, resultados de um mix certeiro de feminilidade e atitude. Estampas tie dye e peças teladas trouxeram uma brisa jovial, enquanto decotes e transparências adicionaram uma sensualidade nada óbvia à coleção dos estilistas italianos. 

As bolsas com máscaras tribais e sandálias com pinturas étnicas devem virar hit. Entre especialistas, a marca recebeu elogios. Mas, nas redes sociais, enfrentou duras críticas – dos 90 looks, apenas 10 foram desfilados por modelos negras, apesar de o tema ter sido o continente africano. A diversidade continua sendo, sem dúvida, uma questão pendente dentro e fora das passarelas.

Coluna publicada na edição 1153 da Revista CARAS.